Redescubra a Lagoa da Pampulha sob uma nova ótica após décadas: navegando por suas águas a partir de embarcações.

Essa perspectiva começa a se tornar realidade com o projeto do prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião, que, após vistoriar pessoalmente a lagoa, reafirmou seu compromisso de revitalizar um dos principais cartões-postais da cidade. A iniciativa, entretanto, enfrenta desafios ambientais complexos, como o assoreamento e a contaminação das águas, exigindo soluções integradas, eficazes e inovadoras.

Em audiência pública, convocada pelo vereador Uner Augusto (PL), representantes da Prefeitura, Governo de Minas, ambientalistas e vereadores debateram a situação atual da Lagoa da Pampulha. A principal preocupação foi o acúmulo de sedimentos que restringe a área navegável e a poluição crescente, especialmente causada pelo descarte irregular de esgoto e resíduos comerciais próximos à Avenida Fleming. A reunião também avaliou tecnologias emergentes capazes de recuperar a qualidade da água, promovendo a convivência da lagoa com os moradores.

Qualidade da água e seus limites atuais

Segundo Leandro Cesar Pereira, secretário municipal de Obras e Infraestrutura, a água da Lagoa da Pampulha está classificada como nível 3, adequada para “contato secundário”. Isso significa que atividades recreativas que não envolvem imersão, como esportes náuticos, são permitidas. Apesar de o site da Prefeitura indicar condições favoráveis para tais atividades, o secretário alertou que o contato primário, como natação ou banho, não é recomendado atualmente, devido ao alto investimento necessário para garantir segurança.

Progresso alcançado e desafios que persistem

Pereira relembrou os tempos em que a lagoa apresentava uma densa camada de vegetação aquática próxima à Igreja da Pampulha, que afastava visitantes pelo forte odor. Embora tenha havido melhoras significativas, o secretário reconheceu que ainda existem pontos críticos de poluição. Entre as ações implementadas, destacou as mudanças na infraestrutura da rede de esgoto pela Copasa, além de intensificação das fiscalizações e campanhas educativas para os estabelecimentos comerciais da região.

Tecnologias avançadas como alternativa eficaz

Gilberto Carvalho, especialista ambiental e consultor da ONU, compartilhou exemplos bem-sucedidos na revitalização do Rio Pinheiros, em São Paulo, e do Córrego Joana, no Rio de Janeiro. Ambos utilizam a técnica de injeção de oxigênio dissolvido em níveis supersaturados, acelerando a decomposição da matéria orgânica e restaurando a qualidade da água. Paula Vilela, engenheira e diretora de empresa especializada, detalhou a comprovada eficácia dessa metodologia em ecossistemas urbanos contaminados.

Assoreamento: um problema que exige ação urgente

O assoreamento continua sendo um tema central. Hidelbrando Neto, vice-prefeito de Itaúna, enfatizou que, sem intervenções rápidas, o espelho d’água reduzirá drasticamente, transformando-se em terra firme. Ele pediu maior agilidade da Prefeitura no licenciamento ambiental, citando que o Instituto de Gestão Ambiental (Igam) poderia dispensar essa autorização para casos semelhantes. Em contrapartida, o subsecretário Pedro Franzoni defendeu a importância de seguir as normas do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), mesmo diante da urgência. Desde a última dragagem entre 2014 e 2017, nenhuma ação expressiva foi realizada nesse sentido.

Pressões judiciais e institucionais intensificam as demandas

Em recente movimento, o Ministério Público Federal incluiu a Prefeitura de Belo Horizonte em uma ação civil pública devido ao desaparecimento de 17,4 hectares da Lagoa da Pampulha, consequência do manejo inadequado dos sedimentos por empresas contratadas. Além das cobranças judiciais, autoridades e sociedade civil exigem respostas rápidas e efetivas.

O vereador Uner Augusto anunciou a intenção de solicitar à Copasa a criação de um portal público com informações atualizadas sobre os comitês da bacia hidrográfica da Pampulha. Também pretende pedir ao Executivo medidas emergenciais para o desassoreamento da lagoa, buscando alternativas para acelerar os processos caso o licenciamento ambiental completo não seja obrigatório.

Um patrimônio histórico e ambiental de valor inestimável

A Lagoa da Pampulha não é apenas um ponto turístico destacado, mas um ecossistema diversificado e patrimônio histórico reconhecido pela Unesco. O complexo arquitetônico modernista, obra de Oscar Niemeyer, é protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) e pelo município de Belo Horizonte. A região abriga 149 espécies de aves, 11 de mamíferos, 18 de anfíbios, 13 tipos de répteis, 27 espécies de insetos e uma grande variedade de peixes.

A bacia hidrográfica da lagoa tem uma área total de 98,4 km², distribuída entre Belo Horizonte (44%) e Contagem (56%), alimentada por oito córregos que requerem atenção contínua para garantir a saúde do sistema.

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